domingo, 22 de novembro de 2009

O ANIVERSÁRIO

O ANIVERSÁRIO
Segunda-feira, o dia da semana que melhor fica quando termina. Começo de semana, rotina do trabalho retomada e os problemas esquecidos na sexta, tomam vida na segunda sem dar trégua. Mas a sombra da vida é o cotidiano, do qual nenhum de nós escapa. De volta ao doce lar para o merecido descanso, Cláudio guarda o carro na garagem, brinca um pouco com sua cadelinha, Dori, uma linda cocker  que entrou no seu primeiro cio. As crianças estavam na casa da sogra em Ilha Bela. Foi quando então se deparou com um compromisso assumido, um aniversário. Isso mesmo aniversário de 41 anos de idade da prima de segundo grau da sua esposa. Comemora-se aniversário com essa idade? Confesso que não sabia.
Pois bem, até Cláudio pensou em relutar, inventar qualquer pretexto. Mas as desculpas do fim de semana foram tantas; chopinho com os amigos, futebol pela TV, os cochilos depois do almoço, que fizeram à consciência pesar. Resolveu aceitar, mostrar boa vontade. Colocou sua camisa nova de seda que ganhara no natal, sempre teve ciúmes da camisa, por isso que nunca usava, tudo em nome do próximo sábado, churrasco com a turma e o seu álibi de marido dedicado, em alta, se estendendo por todo o domingo. Afinal de contas no casamento há de ceder um pouco. E lá foram Cláudio e esposa. E sequer imaginava o que estava por vir.
Chegando à entrada da casa, onde insistiam em chamar de “hall de entrada”, duas crianças e um endiabrado cão fox paulistinha chamado Heitor, congestionavam o caminho. Pulou as crianças, passando  as pernas sobre elas, atitude que daria trabalho a qualquer contorcionista. Resultado, Cláudio abriu demais a perna, sua virilha mostrou que não é tão jovem assim e que está viva e zangada. Desfalque certo no futebol do sábado.
Já na sala, percebeu que chegaram demasiadamente cedo. Um velhinho sentado no sofá assistindo a uma missa pela televisão. Mal percebera que a presença de Cláudio no recinto. Mas Cláudio, pensa que é quem? O Papa para aquele ancião se levantar, os olhos que sejam para cumprimentá-lo? Esqueceu do velho rapidamente e aí veio a aniversariante. Aquela de 41 anos lembra-se, prima de segundo grau? Usando um colã cor de rosa, que sua barriga parecia um box de fórmula I, de tanto pneus que havia. Imaginem vocês, rosa, colado no corpo, parecia um peão gigante, naquela minúscula sala. Suada e o cheirinho de alho nas mãos, delatavam o esforço de toda à tarde fazendo lanchinhos de patê de presunto. De pronto Cláudio resolveu não ficar na cozinha. Cinco  senhoras discutiam a pauta da noite; receitas dos programas de culinária matinal, pão-de-ló com molho de cebola e é claro, o flagra da esposa do galã das novelas das oito. E torcem como se a atriz fosse da família. E Cláudio sabia bem que o reflexo daquela conversa recairia sobre os ombros dos maridos da vida real. Churrasco do sábado com os amigos em sinal de alerta.
Sentou no sofá da sala. Cláudio e o velhinho “estátua”. A missa rolava solta. Um padre com sotaque alemão, alias quase todos tem esse sotaque, falava sobre a infidelidade conjugal. Eles só falam disso! – pensou Cláudio. Não mudam de assunto porque nunca se casaram. Até tentou puxar conversa com o velhinho, ali imóvel.
- Belo sermão - disse Cláudio - quem hoje está chefiando o culto?
Chefiando? Essa foi terrível. Não houve resposta. O senhorzinho já deveria ter ido dessa para melhor e alguém empalhou aquele ser como recordação.
Avistou o controle remoto em uma poltrona. Ali estava a sua salvação. Se não fosse a visita gorda que chegara. Aliás, gorda é bondade. Ela deveria ter ajudado a aniversariante à tarde! Suava como tampa de panela. Onde foi sentar? Na poltrona da salvação. Seu estomago era tão alto e grande que Cláudio ficou com medo daquilo tudo explodir em cima dele. Mas ela era de bom senso, de imediato, tomou a iniciativa e mudou de canal. Colocou no telejornal. Teria sido ótimo se conseguisse ficar com a boca fechada. Com um copo de plástico tomando refrigerante e com a outra mão comendo lanchinhos de patê de presunto, Cláudio começou a ter sua noite completada de segunda-feira. O apresentador anunciava a próxima reportagem: O novo reforço do Palmeiras vindo da Itália. Como bom palmeirense Cláudio arregalou os olhos. Até que a aniversariante entrou na sala. A prima de 41 anos tinha feito na Praia Grande uma tatuagem de dragão no braço. Daquelas que desaparecem em 15 dias. Coisa finíssima. Bastou para o assunto tomar proporções.
 – O Tião da Madeireira fez um São Cristóvão nas costas. - disse ela com orgulho. – É enorme, colorida e agora ele fica o dia inteiro sem camisa na rua. O irmão dele, o Nelsinho Bizonha, foi ao pesque e pague no domingo e pegou uma tilápia enorme que deveria ter uns oito quilos. Grande e colorida.
- Parecida com a tatuagem no Tião da Madeireira. –  disse Cláudio com voz de sarcasmo.
- Mas o Tião soltou sem o dono do pesqueiro perceber. Tá certo ele, o quilo do peixe “tá cinco real”, ninguém agüenta.
Nisso ela tinha razão ninguém agüenta.
Pouco depois apareceram os dois garotos, brincavam com bonequinhos na frente da televisão. Agora Cláudio não conseguia ver e nem escutar. Foi então quanto o Heitor chegou para dar boas vindas. Só lembrando, Heitor é o cão paulistinha, aquele do hall de entrada. E o desgraçado devia estar na secura e tinha um faro muito bom. De imediato sentiu o cheiro da Dori, aquela  cocker do primeiro no cio. Como uma lagartixa grudou na perna de Cláudio. E vocês já sabem. Parecia um cão convulsionado. Seu sincronismo com as patas e a língua de fora, daria inveja a qualquer um de nós. Foi quando a senhora obesa virou e falando tão baixinho que até quase ressuscitou o velho múmia.
- Ele ta encantado com você viu moço. (encantado! Socorro! Meu Deus! Só relevei a observação, pelo viu moço). - Lá em casa a gente joga cânfora no focinho deles que eles param.
– É verdade – disse Cláudio – Sai tão às pressas que esqueci de pegar meu frasco.
O Heitor não parava. A gorda mastigava duas bolinhas de queijo de uma só vez. E continuava a matracar com a massa pasteurizada de boca aberta.
- Ontem eu vi na televisão que fazer amor cura dor de cabeça.
Então por que diacho elas usam isso como desculpa na cama, pensou Cláudio.
- Por isso – engasgou com um suspiro estomacal, daqueles que se segura com a mão fechada na boca. Ficou vermelha, Cláudio pensou, agora ela embarca e faz companhia com o velhinho. Se não fosse o refrigerante para desentupir o concreto.Tomou um copo inteiro e fez ahhhhhh no final.
- Continuando. . . (que ótimo ela tem tinha de raciocínio) por isso que eu faço amor, dia sim dia não.
E será que o cara sobrevive, pensou ele. E o Heitor não parava. Estava dando câimbra perna de Cláudio. e o paulistinha no pique total. Não adiantava que empurrasse o diabinho do Heitor, ele voltava na hora.
            Era uma bandeja enorme, de papelão prateado. Os pedaços de bolo estavam em guardanapos (não tinha pratinhos. E vocês esperavam por isso? Cláudio não!). A tia   equilibrava-se tentando desviar das crianças do hall de entrada. Foi quando apareceu a chance de Cláudio. A gorda se virou por um momento para pegar o bolo. Não deu moleza dessa vez. Mesmo com a virilha em farrapos, chutou o Heitor para longe. Bingo! Sucesso, certo? Errado! O paulistinha  voou na cabeça do velhinho, este por sua vez, mostrou que estava mais vivo do que nunca, um reflexo fantástico, levantou-se com uma avidez, trombou na tia  e...pronto! A bandeja inteira daquele bolo de glacê caiu na camisa de seda de Cláudio. Ficou imóvel por alguns segundos até a gorda  começar a falar.
            - A Lurdinha Satanás, irmã do Tião da Madeireira e do Nelsinho Bisonha, é lavadeira, tira mancha como ninguém. Se quiser põe num saquinho que eu levo para ela hoje.
            Cláudio não agüentou, chegou ao seu limite.
            - Alguém pode chamar a minha esposa, por favor.
            E a gorda, vejam vocês, não parava.
            - Homem é tudo igual, não vive sem a mulher. Mulher é só para isso que serve, lavar, passar cozinhar e cuidar dos filhos.
            A mulher  de Cláudio entrou na sala e já entendeu com um simples olhar que ele iria embora dali com ou sem ela. Para fechar a noite do aniversário, o Heitor colou na sua perna novamente. E a gorda completou.
            - Leva ele moço, hoje ele não dorme sem você. A Lurdinha Satanás tinha um coelho que ficou biruta por causa disso.
            Pegou no braço da mulher e com aquele apertãozinho, saram dali antes que ele enlouquecesse.
            No carro indo para casa. O silencio reinava.Laura a esposa não sabia como puxar conversa. Apesar de estar convicto que ela estava segurando o riso, vendo-o todo enlambuzado de bolo. Meio sem jeito arriscou conversar.
- Então bem, o que eu posso fazer para te ajudar, faço tudo para você ficar um pouco mais alegre.
            - Vai ser difícil. A menos que você me responda uma coisa.
            - O que é? – disse ela toda dedicada.
            - Quem é o novo reforço do Palmeiras que veio da Itália?
Antonio Carlos Pereira Gomes - 2004

segunda-feira, 2 de novembro de 2009


O VIAGRA E A FARMÁCIA
Posso imaginar qualquer produto falsificado. Afinal  nos dias de hoje o efeito “clonagem” parece estar agradando muito gente. Filmes , artigos, livros e experiências tudo direcionado a nova moda do milênio . “Produto Falsificado” já obteve nomenclatura especial. Na mais famosa feira ao ar livre, a 25 de Março em São Paulo encontra-se em qualquer esquina  chineses vendendo coisinhas similares a que conhecemos e quando perguntamos se tratar de falsificado, respondem de bate e pronto:  - No! É Ploduto Altelnativo!
Podemos perceber quando trata-se de produto não original. Em alguns o acabamento é grosseiro e o funcionamento nos revela a triste certeza que jogamos dinheiro fora.  Mas agora convenhamos, remédio para disfunção erétil?  Falsificado?
Como verificar a eficácia do produto. Alias esses remédios passaram a ser conhecidos como Viagras, independente de marca. A salvação de muitos velhinhos que tornaram a vida de muita vovó mais intensa.
O Brasil tomou conhecimento há alguns dias sobre o “Viagra Falsificado”. Coitadinhos dos vovozinhos. Tanta alegria, esperança e momentos jamais imagináveis. Agora aqueles que livraram-se de preocupações há um bom tempo, terão que voltar suas atenções para a qualidade do amor. Já são craques em preliminares e por isso sabem que se não jogarem o estádio fica vazio. Fico pensando como esses pobres anciãos farão o teste do produto antes da partida começar. Em casa? Sozinhos? Toma só metade? Uma lambida? Situação complicada. Mas agora é assim, ouviremos em breve dizerem: “No meu tempo Viagra era Viagra não como esses que vendem agora”.
Pensem do lado bom. Quando no momento crucial o jogador falhar é só soltar com ar de indignação: “Desculpe-me mas esses Viagras falsificados acabam com a nossa festa”.
Contam uma história que a velhinha com muita vontade de resgatar os momentos do amor carnal, pediu para o marido comprar o tal do Viagra. Ele foi comprou e tomou o medicamento. Passaram 10 minutos e o velhinho estava como nos velhos tempos dos anos 50. A velhinha ao ver aquela disposição falou: - Amor corre pra cama, vamos aproveitar o efeito – O velhinho colocando o chapéu e o casaco retrucou: - Que pra cama nada deixa eu correr e mostrar para o pessoal da praça!
Antonio Carlos Gomes